Gratidão pelo Colégio Internacional dos Terapeutas existir e pela centelha de luz que um dia iluminou as pessoas que o fundaram. Muito obrigada.
Eu sou médica há 34 anos. Percorri uma longa jornada entre ser clínica de CTI até ser terapeuta do CIT. Iniciei a mudança quando, há 27 anos, fiz especialização em Homeopatia e, depois em Antroposofia. Todo esse tempo eu passei me dedicando ao que creio todos aqui temos procurado: a busca do ser humano sadio; quer dizer, inteiro, não fragmentado. Uma pessoa sã não se limita a ausência de doenças físicas representando algo mais amplo do que isto. Há 25 anos fundamos um Centro de Saúde em Belo Horizonte, o ProCurarSe, em prol da cura e de acompanhar e ajudar o outro em sua jornada. Como médicos e terapeutas desta equipe transdisciplinar sempre objetivamos um processo de cuidar das desarmonias, mas também de limpar os obstáculos para uma essência que nunca adoeceu, que chamamos de Saúde Primordial.
Ser acolhida e participar do CIT representou ampliar mais essa visão e ter um aval para aprender a somar as diferenças e multiplicar as afinidades das diversas abordagens que auxiliam as pessoas. Isto foi fundamental. Porque, curiosamente, quando eu cheguei na Homeopatia, encontrei preconceitos contra a Psicanálise, a Antroposofia etc. As velhas verdades absolutas… enquanto há tanto o que fazer para amenizar o sofrimento humano. Com vários grupos de trabalho eu tenho me dedicado a somar essas diferenças e multiplicar as sintonias em prol da cura.
Em nossa atividade, integramos várias escolas, desde o que chamamos de Medicina Convencional até a contribuição ampla de tradições milenares como a Medicina Tradicional Chinesa ou a Ayurveda Hindu, que são patrimônios da humanidade. Trabalhamos com a psicanálise, com a transpessoal, com a fisioterapia e outras abordagens, a partir do conceito de terapeuta ampliado pelo CIT. O que mais importa é somarmos o entendimento de que cada abordagem exprime um nível de atuação e o respeito às outras tradições que às vezes não conhecemos. Pois nós somos diferentes, precisamos de remédios diferentes, de abordagens ou linhas diferentes, de diferentes doses, em fases diversas das nossas vidas.
Congelar alguém nos limites de uma única verdade e de uma única tradição pode ser muito perigoso. Este tem sido o nosso convite: que as várias escolas se integrem, encontrem pontes entre elas, na direção da comunhão referida por Jean-Yves Leloup. Lograr a interdependência, para que possamos fazer algo mais pelo sofrimento da humanidade e das pessoas, pelo coletivo e pelo indivíduo.
Em nossas aulas temos buscado linguagens para conversar com os mais jovens, como os médicos recém-formados na ditadura dos protocolos, do deus ciência e do deus economia. No momento atual, felizmente, a Física tem vindo em nosso socorro, como já faz parte hoje das formações da Unipaz. Trata-se de não olhar a Medicina Convencional como algo rígido e estável, como na visão da Física Clássica, que tem uma verdade relativa. Em nosso socorro tem vindo a Física Quântica. Com as minhas limitações, eu tenho estado perto dos físicos, como o Amit Goswami e o Lama Padma Samten, que durante muitos anos foi docente no Rio Grande do Sul em Física Quântica, assim como de professores mais acadêmicos. Esta linguagem, que não é fácil e nem simples, nos ajuda através dos belos conceitos, como o da não localidade, da hierarquia, da causação descendente. Valer a pena conhecermos mais …
A Medicina Convencional compreende o homem a partir do pequeno, da célula até o DNA, depois vai ao órgão, à doença, à consciência. Outro caminho oferecido pela Física Quântica é um caminho que vai do macro ao micro. São dois caminhos, mas nós, como seres humanos, ricos que somos, podemos até ter mais caminhos, nos direcionar para baixo, para cima, para a direita, para a esquerda. Procuramos colaborar com esta linguagem. Por exemplo, a hierarquia entrelaçada, na verdade, é para somar dentro da mandala de cura, permitindo que o Ser tenha uma chance de ver a sua parte saudável e de acessá-la. Estas são ferramentas para acessar a unidade do Self, anteriormente mencionado.
Falar de hierarquia entrelaçada nada mais é do que dizer da viga mestra de um tratamento clínico que é o encontro, que é a consulta, que é a anamnese tão referida pelo CIT. Como pode acontecer o encontro se o terapeuta sequer olha para a pessoa, meramente se mantém repetindo uma receita? Qualquer cliente fica enfurecido ou muito frustado com isto. É comum terapeutas afirmarem por exemplo: Você vai continuar a tomar insulina para o resto da sua vida. Isto é congelar, isto é muito pouco. Talvez o médico não tenha ainda outra solução para dar para o paciente além da insulina, porque ainda não foi inventado. Mas, para aquele Ser, que está ali a cada consulta, a cada momento, ele é um outro. E na visão da hierarquia entrelaçada existe um encontro entre o indivíduo e o outro. E isto é que precisa ocorrer para que o fluxo da vida aconteça, e não o congelamento.
Os profissionais mais jovens gostam de dizer que o sujeito e o objeto se colapsam juntos, fazendo, neste momento, um salto quântico. Isso é bonito, mas sem novidade, pois se trata de algo que nós sempre fizemos: um ser encontra com outro e, naquele momento, a partir de duas individualidades, há uma criação e uma conexão com a unidade. A partir disso há um salto, algo se renova. Não só para a pessoa que é atendida, para o paciente, mas também para o terapeuta, para o médico. E se você é renovado, fica mais jovem, isto não te cansa, e você termina o dia mais curado do que no seu início.
Este é o nosso trabalho e o que propomos para as pessoas. Quantas vezes nós ouvimos aqui do querido Roberto Crema sobre o que a física quântica fala: o olhar do observador. O olhar do observador cria o que vê no momento presente, que é um presente, uma nova realidade, uma real idade diferente. O olhar que transforma, lembrando sempre que cada pessoa olha de um jeito único; eis a riqueza do que está aqui, do que está no mundo. Nós somos diferentes, que bom! Cada um vai olhar de um jeito. Se somarmos nossos olhares, talvez tenhamos um vislumbre do que o Criador fez do Todo.
Em meu último livro A bula da vida – uma fábula sobre meditação e medicação, usei como título de um dos capítulos a expressão popular Doutor, tira minha pressão. As pessoas dizem: Eu fui ao médico e ele nem tirou a minha pressão. Nem tirou a minha pressão, que médico é esse?! Porque ninguém vai ao médico apenas para medir a pressão. Só um gráfico de pressão é muito pouco! Você vai para tirar a sua pressão, para que ele o ajude a tirar a pressão que a realidade lhe imprime, para se transformar, para adquirir lucidez, maneiras de criar novos rumos. É isso que você quer. Você não quer gráficos; isso você vê no computador ou na farmácia. Você quer mais que isso. Então, realmente, o povo está certo: Doutor, tira minha pressão!
Há alguns anos eu descobri, meditando – claro que já devia estar passando aí pelas ondas mentais do mundo – , que meditação e medicação vem do radical medi, que quer dizer medida. Medicar e meditar. Medicação, no sentido amplo que o CIT utiliza, que não é só remédio, mas pode ser uma palavra, um RPG, enfim, uma cirurgia. No sentido amplo, porém, medicação e meditação – curiosamente tem só um t e um c diferenciando essas duas palavras – são ferramentas que auxiliam a transformação de consciência. Ambos são instrumentos para interferir na medida da realidade de si mesmo e do outro – devem ser respeitados como tal. Meditação não é só relaxamento, assim como Medicação não é sinônimo de remédios.
Nós temos trabalhados com estas orientações do CIT, que são profundas e simples de divulgar. Como é que um médico ou um terapeuta não se trata e não tem tempo para se dedicar ao silêncio? Que realidade é essa que alguém assim pode oferecer? Só podemos oferecer o que temos.
Também temos divulgado os conceitos de níveis de doença e de níveis de saúde. As muitas linguagens, as muitas filosofias, aparentemente distantes umas das outras, muitas vezes apenas estão falando de níveis diferentes de doença e saúde. Algumas falam mais do físico, outras entram por outras portas da mente, da vitalidade, da consciência…
Essa cura é inclusiva e não exclui os níveis. Isso também não é novo, como Jean-Yves afirmou. Só no Ocidente nós temos Jung, Rudolf Steiner, o próprio Hipócrates, falando de quatro níveis. O Oriente nos trouxe um quinto nível: o éter ou o espaço. Então, cada linguagem, cada filosofia, entra por uma porta distinta para iniciar um tratamento. Uma boa ferramenta pode entrar pelo físico, como uma cirurgia bem indicada. Neste caso o corpo físico estava doente e a ferramenta adequada é esta. Mas mesmo neste caso um bom terapeuta, um bom médico, aborda sempre mais de um nível. Porque ninguém é só corpo físico.
Nós sabemos que existem doentes psiquiátricos que às vezes são profundamente saudáveis no nível físico. E também conhecemos pessoas que são frágeis fisicamente e profundamente saudáveis no nível mental. O que importa, então, é entender que nível ou que porta é essa que a pessoa pede no seu momento. É importante solicitar auxílio aos colegas, aos outros terapeutas, para somar. Lembrando, também, que um bom trabalho oferece resultados em mais de um nível. E existem níveis mais sutis, como os que o CIT e Jean-Yves têm trazido, que colapsam realidades tão sutis que não cabem nem na palavra.
Eu acredito que existem mais de quatro ou cinco níveis de consciência que podem adoecer, talvez existam sete. Entretanto, como mal compreendemos os quatro ou cinco níveis descritos há séculos por diversas escolas médicas já citadas, é melhor ficar por aqui … por ora …
Por fim, vale pontuar que a doença e o sintoma nada mais são do que uma oportunidade de conexão, às vezes com a saúde primordial. Uma informação de uma face que não vai bem. Considerar que essa face, como alguns dos corpos sutís, às vezes não tem linguagem, e então pede que o corpo físico se expresse. Denominei a um dos capítulos do meu livro A febre fala. A febre fala e solicita transformação. Por onde mais poderíamos conversar? Ninguém está dizendo que uma criança com 39 graus não necessite de um antitérmico. Mas apenas isto não basta. Isto é calar a boca do sintoma, e a febre pede para ser ouvida não só no âmbito físico. Precisamos aprender a costurar as informações que às vezes são provenientes da família, da escola, da sociedade ou do que está acontecendo no desenvolvimento da criança. Especialmente nos sintomas repetidos e crônicos. Não cale a boca do seu corpo! Você pode até ajudá-lo a sentir menos dor, mas vá além … Escute-o! Pode ser uma grande oportunidade de se conhecer e de adquirir consciência e lucidez sobre sua própria história.
É preciso sair do labirinto da repetição. Nós temos também um instrumento maravilhoso que é a meditação, que é um medicamento que precisa da voz do silêncio para que possamos escutar. E que é um patrimônio de várias tradições. Para uma sociedade hiperativa, pouco apta à quietude e ao silêncio, podemos utilizar práticas ativas como o Tai Chi, a Yoga e tantos outros caminhos complementares. Também temos feito parcerias, como com a artista plástica Juçara Costa, que ilustrou o livro A bula da vida. Convidando o despertar da criatividade das pessoas para um novo padrão de consciência. Eu já fiz parceria com vários artistas plásticos, com grupos de teatro, com músicos … porque esses terapeutas podem atender, às vezes, num único evento, duas ou três mil pessoas. Isto não é curioso?
Por exemplo, nós hoje sairemos deste espaço com a vibração dos poemas que o Roberto Crema nos trouxe. Talvez nem entendamos, mas algo nos toca, propiciando a abertura das próprias asas, com a possibilidade de outros encontros, inclusive com os nossos sonhos. É a quietude e a criatividade que oferecem espaço para um conteúdo novo ou, pelo menos, para um novo significado a um conteúdo velho. O importante é sair do condicionamento e do congelamento da normose. Saúde é fluir. Por fim, peço a benção do CIT para esta nova publicação, minha e de Juçara Costa. Que possamos divulgar a importância de resgatar para os seres humanos a saúde primordial e a felicidade genuína. Felicidade genuína que advém do que ajudamos a cocriar no mundo, pois não é algo que tiramos do mundo.