E o fim de toda a nossa exploração
Será chegar ao lugar onde começamos
E conhecê-lo pela primeira vez
T.S.Elliot
Meditação é caminho de volta para casa, para seu estado natural de lucidez, clareza, paz e bem aventurança. No entanto, nossa mente ordinária está repleta de confusão e dispersão, pulando incessantemente entre pensamentos, emoções e sensações. A mente está intimamente relacionada à forma com que nos relacionamos com nós mesmos e com o mundo á nossa volta. Mas, nem isto é possível ver se estivermos enredados o tempo todo no emaranhado dessa mente desgovernada.
Meditação é um método para familiarizar-se com a mente. Para, sem julgamentos, reconhecer e gentilmente domesticar nossas mentes rebeldes e desatentas. Para sairmos do estado de alguém que possui um maravilhoso carro e não sabe dirigir. Para tal precisamos de um meio hábil, um método para evocá-lo.
Mas não se esqueça: um método é apenas um meio, não a meditação em si mesma. É praticando habilmente o método, que você atinge a perfeição daquele estado puro de total presença, que é a verdadeira meditação, onde podemos experimentar e provar nosso lado inteiro, além da fragmentação e das atividades sem fim.
Para a meditação acontecer, condições calmas e auspiciosas precisam ser criadas. Antes de conseguirmos o domínio da nossa mente, é necessário primeiro aquietar o seu ambiente. A mente é como a chama de um candelabro: instável, tremulante, constantemente mudando, soprada pelos ventos brutais dos nossos pensamentos e emoções. A chama só terá firmeza quando serenarmos o ar ao seu redor; assim, só podemos começar a ter vislumbres sobre a natureza da mente e a repousar nela quando aquietamos a turbulência dos pensamentos e emoções.
Por outro lado, uma vez que obtivermos estabilidade na nossa meditação, ruídos e perturbações de todo tipo terão impacto muito menor.
Dicas importantes
Qualquer pessoa pode praticar meditação. Geralmente o melhor horário de praticar é no inicio da manhã quando a nossa mente está mais repousada naturalmente. E um relaxamento à noite ou meditação deitada são de grande importância. Mas meditação é uma ferramenta para Atenção Plena, que é estar presente a qualquer momento. À medida que se avança na prática se consegue estar presente a cada momento o tempo todo.
Para sua prática escolha um lugar tranquilo. Tenha um santuário na sua casa, no seu espaço de trabalho, para recolhimento, mesmo que seja uma cadeira. A Atenção Plena pode ser feita sob quaisquer condições, mas a prática formal é preferível em uma iluminação a meia-luz ou com velas. Isto favorece o descanso do 3.chakra que é o centro energético ligado aos olhos, ao controle, etc.
Incensos: são bem vindos, mas não são essenciais. Eles são uma das formas de oferecer e encaminhar sua prática. E de despertar o seu Ser para esta atividade e intenção.
Algumas escolas sugerem a fixação em um mantra, som ou em um símbolo. Outras, como Zen Budismo, sugerem apenas o silêncio e a concentração na respiração.
Também existe a possibilidade de alguém conduzir ou ouvir a gravação de uma condução feita por Mestre. Para o iniciante ou quando a mente está muita agitada esta condução pode ser de grande auxílio.
Duração
Comece sempre devagar, é melhor iniciar com poucos minutos e ir aumentando gradualmente. Na prática formal a duração da meditação é de 20 a 40 minutos. Um Zazen, por exemplo, tem duração de 40 minutos.
Mas como falamos, Atenção Plena deve ser vivenciada a toda hora, qualquer conquista de manter Atenção Plena é importante. Períodos curtos, muitas vezes, parece ser o segredo do progresso gradual.
Para isto podemos usar Atenção Plena com leve sorriso em qualquer tempo e lugar como nos ensina em seus muitos livros o Monge Zen vietnamita, Thich Nhat Hanh:
Leve sorriso nos momentos livres; enquanto estiver esperando numa sala, ou num ônibus, ou na fila, ou em qualquer lugar, mantenha leve sorriso. Olhe para uma criança, uma folha, um quadro pendurado à parede e sorria. Inspire e expire três vezes. Mantenha leve sorriso e focalize a atenção em sua própria natureza.
A Postura
Há uma conexão entre a postura do corpo e a atitude da mente. Mente e corpos estão inter-relacionados e a meditação surge de modo natural quando a sua postura e atitude são inspiradas.
Sente-se, portanto, como se fosse uma montanha, com toda a firmeza e inabalável majestade de uma montanha. Uma montanha está completamente natural e à vontade consigo mesma, não importa quão forte é o vento que golpeia ou quão espessa a camada de nuvens em turbilhão ao redor do seu pico.
Sentando-se como uma montanha, deixe sua mente elevar-se, voar e pairar no alto.
Zazen (do japonês, Za que significa sentar e Zen, meditação) é prática fundamental do Zen budismo; é a milenar prática de contemplar profundamente com postura correta de corpo e de mente.
O ponto mais importante da sua postura é manter as costas retas, como “uma flecha” ou “uma pilha de moedas de ouro”. A “energia interior”, ou prana, fluirá então com facilidade pelos canais sutis do corpo e sua mente encontrará o seu verdadeiro estado de repouso. Não force nada. A parte baixa da espinha tem uma curvatura natural; ela deve estar descontraída, mas vertical, sua cabeça deve estar confortavelmente equilibrada no pescoço.
São seus ombros e a parte superior do torso que vão sustentar a força e a graça da postura, e eles devem manter um forte aprumo, mas sem qualquer tensão.
Sente-se com suas pernas cruzadas. Não é preciso sentar-se na posição de semilótus ou lótus completa que é mais enfatizada na prática avançada do Yoga. As pernas cruzadas expressam a unidade da vida e da morte, o bem e o mal, meios hábeis e sabedoria, os princípios masculino e feminino, o samsara e o nirvana; o humor da não-dualidade.
Pode também, se preferir, sentar-se numa cadeira, com as pernas relaxadas, mas mantenha sempre as costas retas.
Os olhos devem manter-se abertos a 45º: esse é um ponto muito importante.
Se você é sensível a perturbações de fora, no início da prática pode ser útil fechar os olhos por algum tempo e aí calmamente volta-se para o interior. Sentindo-se estabilizado na calma, abra seus olhos devagar e verá que seu olhar está mais em paz e mais tranqüilo. Olhe para baixo, na direção da linha de seu nariz e num ângulo de cerca de 45 graus para a frente.
Uma dica prática em geral é que sempre que sua mente estiver excitada será melhor baixar seus olhos e sempre que estiver sonolenta, trazê-los para cima.
Não focalize nada em particular. Em vez disso volte-se delicadamente para si mesmo e deixe seu olhar expandir-se, abrir-se mais e mais no espaço e tornar-se mais abrangente. Você descobrirá então que sua visão em si se torna mais expansiva, e que há mais paz, mais compaixão no olhar, mais equanimidade e estabilidade.
Deixe todos os sentidos – audição, visão, tato – simplesmente abertos, de forma natural, tal como são, sem se apegar às percepções que vêm deles. Embora diferentes sons sejam ouvidos, eles são vazios; mesmo na vacuidade percebemos sons. Também surgem diferentes pensamentos e eles são vazios; mesmo na vacuidade percebemos pensamentos.
Não importa o que você veja, não importa o que ouça, deixe como é, sem se apegar. Deixe o escutar no escutar, o ver no ver, evitando que o seu apego entre na percepção.
Permita que os pensamentos se acalmem, tudo o que vier deixe passar.
Ao meditar, mantenha sua boca ligeiramente aberta, como quem está para pronunciar um prolongado e relaxante “aaah”.
A meditação budista tem dois aspectos: shamatha (arte de fazer cessar os pensamentos) e vipashyanna (olhar em profundidade). A prática de shamatha é fazer parar, acalmar, descansar, que são pré-requisitos para cura.
Tchich nhat Hanh
Alguns métodos para praticar Meditação
Há incontáveis métodos de meditação, alguns vindos da prática do Yoga. E de muitas tradições religiosas. Dizem que o Buda ensinou 84.000 diferentes maneiras para domar e pacificar as emoções negativas.
Aqui citamos três técnicas de meditação que são particularmente eficazes no mundo moderno, e que todos podem usar e beneficiar-se. São elas: “observar” a respiração, usar um objeto e recitar um mantra.
Meditando com a respiração
O primeiro método é muito antigo e o encontramos em todas as escolas de meditação. Trata-se de pousar sua atenção, leve e atentamente, na respiração. O simples ato de direcionar atenção à respiração produz calma e consciência que permite que você se distancie do problema com qual está lidando ou com a agitação da mente. Isto pode ser praticado em qualquer lugar.
Respiração é vida, a mais fundamental expressão da nossa vida. No judaísmo, ruah, a respiração, significa o espírito de Deus que infunde a criação; também no cristianismo há uma profunda ligação entre o Espírito Santo, sem o qual nada poderia ter vida, e a respiração.
No ensinamento do Buda, a respiração, ou prana em sânscrito, é conhecida como o veículo da mente, porque é o prana que faz nossa mente mover-se. Assim, quando você acalma a mente ao trabalhar de modo hábil com a respiração está simultânea e automaticamente domando e treinando essa mente.
Na prática formal de meditação um dos métodos consiste em contar as inalações e exalações. Conte na primeira inalação e exalação “um”, depois dois e assim por diante até oito. Depois recomece.
Caso perca a concentração, reinicie a contagem quantas vezes forem necessárias. Inicie sempre com períodos de tempo curtos que você pode repetir varias vezes. Quando você meditar, respire naturalmente, como sempre faz.
Ponha sua atenção de leve na expiração. Quando põe o ar para fora, flua com sua expiração. Cada vez que expira, está soltando e se libertando da sua avidez.
Leve sua atenção a uma breve pausa que existe entre a expiração e a inspiração. Imagine sua respiração se dissolvendo na vastidão da verdade, vastidão que tudo abrange.
A cada vez que expirar o ar e antes de inspirá-lo de novo, perceberá um intervalo natural, “à medida que a avidez se dissolve”.
Descanse nesse intervalo, nesse espaço aberto. E quando, naturalmente inspirar, não se fixe no ar que entra, mas siga repousando sua mente no intervalo que se abriu ali.
Quando você está praticando, é importante não se deixar envolver em comentários mentais, em análises ou no falatório interno. Mas se vier não discuta com eles, deixe que passem. O importante é a pura presença.
Não se concentre demais na respiração; dê-lhe cerca de 25% de sua atenção; com os outros 75% deixe a mente silenciosa e corpo amplamente relaxado. Tornando-se mais consciente da sua respiração, você descobrirá que está cada vez mais presente, trazendo todos os seus aspectos dispersos de volta a si mesmo e juntando-os, ficando inteiro.
Mais do que “observar” a respiração, deixe-se gradualmente identificar com ela, como se você se transformasse nela. Aos poucos, a respiração, o respirar e aquele que respira tornam-se um só; a dualidade e a separação se dissolvem.
Como verá, esse processo muito simples de presença mental filtra seus pensamentos e emoções. Então, como se você trocasse uma pele velha, algo se desprende de você e o liberta.
Algumas pessoas, no entanto, não relaxam e não se sentem à vontade com a observação da respiração; acham isso quase claustrofóbico. Para elas a próxima técnica pode ser mais proveitosa. É importante observar e escolher o método que funciona para você!
Meditando com um objeto
Um segundo método que muita gente pode achar útil consiste em delicadamente descansar a mente em um objeto. Você pode usar um objeto de beleza natural que lhe traga uma inspiração especial, como uma flor ou alguma coisa de cristal. Mas algo que personifique a verdade, como uma imagem do Buda, de Cristo.
Na prática da meditação com objetos, utilizamos nossos sentidos como um meio de estabilizar a mente. Podemos utilizar a visão, por exemplo, olhar uma vela, que é uma das técnicas mais simples.
Mas também podemos usar a faculdade da audição, do paladar, do tato, assim as informações que recebemos pelos sentidos podem se tornar grandes aliadas para nossa prática.
Existem muitas formas de meditar, inclusive sobre as sensações dolorosas.
A meditação sobre o mantra
Mantra, do sânscrito: repetição de combinações especiais de sílabas antigas.
É uma técnica poderosa que não apenas cultiva a consciência, mas também, por meio da potência das sílabas recitadas dissipa camadas de obscurantismo mental. Essa conexão pode ser difícil de aceitar no começo.
Mas na meditação sobre o mantra, o foco de atenção é a recitação mental de determinado conjunto de sílabas que parecem ter um efeito direto de acalmar e limpar a mente.
Você pode comer recitando o mantra em voz alta e aos poucos passar para uma forma mais interna de recitação mental.
Em termos muitos simples, a abordagem mais efetiva à meditação é tentar o máximo sem se concentrar demais nos resultados.
Yongey Rinpoche
Bibliografia consultada e sugerida
• A montanha e o oceano, meditação e compaixão no Budismo e no Cristianismo | Editora Vozes | Jean Yves Leloup
• A Alegria de Viver. Descobrindo o segredo da felicidade | Editora Campus | Yongey Mingyr Rinpoche
• Meditando a Vida | Editora Peirópolis | Lama Padma Samten
• O livro Tibetano do Viver e do Morrer | Editora Talento | Soyal Rinpoche
• Para viver em Paz. O milagre da mente alerta | Editora Vozes | Tchich Nhât Hanh