Alegria fraterna me preenche ao escrever sobre o Oráculo das Matryoshkas de Heloisa Monteiro. Conheço Heloisa há décadas como cliente, amiga e, atualmente, como sua terapeuta acompanhante do CIT. E nesses anos, conspiramos em muitos projetos afins. Tenho muita admiração por esta pessoa forte que realizou tão bem suas tarefas no universo masculino… Enfrentou, competiu por causas que acreditava, construiu uma carreira de sucesso no meio jurídico que, por si, fala de limites, formas, leis e de realidades concretas. Enfim, usufruiu e honrou os direitos e deveres tão arduamente conquistados por nossas ancestrais, como o de ser tratada com igualdade, às vezes, a duras penas, no mundo do patriarcado, onde a força yang dita as regras. E, como a maioria das mulheres da sua geração, se multiplicou para atender as inúmeras tarefas de ter um lar, ser esposa, mãe e filha.
É obvio que as mulheres, para ocupar um lugar ao sol, sacrificaram a energia da força feminina. Perderam seu brilho lunar. E foram, progressivamente, se adequando a uma época de dominância da força Yang desvirtuada, a ponto do fazer e do possuir se tornarem máximas tiranas para homens, mulheres e crianças.
O preço tem sido alto. Seus corpos manifestam sintomas diversos, às vezes gritando literalmente por sua falta de espaço e tempo para usufruir a força da quietude, da cooperação, do sentir e da intuição. Quem roubou do mundo os raios da lua? Onde está o tempo para gestar, dormir, viver o deleite e sonhar? O espaço para que a criatividade surja da não forma? Para arder em prazeres que nada têm haver com conquistar, penetrar e possuir? Por que tão difíceis TPMs? Expressão que era de uso médico, hoje é tão comum que virou motivo de piada popular. E as melancólicas menopausas, com seus calores e insônia? Por quem clamam estas moças e senhoras?
As pessoas se fragmentam e esfacelam a força do feminino ao lutar pelo mínimo de igualdade num mundo que, cada vez mais, ignora as diferenças dos seres. Enquanto isto, quem irá ensinar a Paz, o acolhimento, a voz do silêncio, a abraçar o que muitas vezes não palpável ou dizível, às crianças e ao mundo da razão? Até quando isto será remediado por drogas legalizadas, ou não, para calar a boca da insegurança, das fragilidades, da solidão, da opressão e do medo? São temas que o feminino milenarmente conhece e que, se ouvido, nos ofereceria sua rede de cooperação e de recursos para superação.
Não creio que haja respostas para este tema nos limites da prosa ou da realidade estreita em que vivemos. Mas, existem inspirações delicadas no saber e no sabor dos alimentos preparados, de fato, para nos nutrir; nos abraços sem preços ou pressa, na poesia, as orações, na dança da Mãe Terra, na sexualidade, que não pede resultados e usufrui as nuanças, nas canções de ninar, nas cirandas, no ritmo da voz dos contadores de estórias, nas asas da Arte e no religar-se com o sentir e com o sutil.
O Oráculo das Matryoshkas se nos oferece para ser uma destas inspirações. Heloisa, que sabe o preço do sol, nos trás os mistérios do feminino. Enquanto nos entretém com encantadoras bonequinhas, nos recorda de como sermos múltiplas sem nos fragmentar. Como mudarmos sem perder a essência. Oferece a beleza e a reverência no ato de despir-se no tempo atemporal.
Apoiado na linhagem terapêutica e familiar de Heloisa, este oráculo é dedicado à sua mãe e filha. Entretanto, recebe os desenhos do marido Júlio e a proteção do filho primogênito, Hugo, mostrando a legitimidade que só os acasalamentos dos princípios feminino e masculino podem oferecer a Vida.
Recordamos, assim, que desde que o mundo é mundo, independente de gênero, idade, nacionalidade, profissão, renda, estado civil ou religião, a vida só floresce no planeta Terra para os humanos com o encontro das forças Yang e Yin. E qualquer grande distorção, dentro ou fora de nós, leva ao adoecimento e falência progressiva.
Para terminar, sugiro que antes de abrir este pequeno livro, prepare-se!
Apresente-se e diga quem você é. E a que veio. Recorde-se que uma pergunta a um oráculo é um encontro para além das palavras, com o inesperado e com o que não conhecemos em nós mesmos… Por isto, ao bater na porta de um oráculo, é preciso esvaziar-se, expirar e expor-se como uma rosa ao sol. A rosa confia que sol da lucidez penetre em suas pétalas com vigor, o que oferece a ambos o deleite da sabedoria. O desabrochar dos mistérios do feminino se revela aos que o tratam com respeito… Não há pressa porque em cada camada, você terá chegado ao Todo. E, no seu centro, só encontrará o Vazio. Vazio imenso das possibilidades, que nada dirá ao visitante, homem ou mulher, que não se dispuser a conhecer-se múltiplo e inteiro.
Ocupe sua bem-aventurança de ser e viver num universo que flui com a dança do masculino e feminino. Seja bem vindo!